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Trip | Serra da Mantiqueira 16.06.25
PARTE 02
Após visitar as duas RPPNs onde o Kassius Santos atua (Confira a PARTE 01), continuamos nossa viagem pela Serra da Mantiqueira visitando o Parque Nacional do Itatiaia. O termo, Itatiaia, vem do tupi guarani que significa “pedras pontadas”. Os formatos arredondados, sulcos e ranhuras evidenciam que o local foi um antigo vulcão. Encontra-se em um complexo alcalino, formado por brechas magmáticas, gnaisses homogênicos, granito alcalino, nefelinas-sienitos-foiatos, quartzo-sienitos, e sedimentos aluvionares e coluvionares. As formações rochosas são consideradas raras, pouco encontradas no resto do país, parecidas com granito, porém tratando-se de nefelina sienito. Criado em 1937, o Parque do Itatiaia foi a primeira Unidade de Conservação Nacional do nosso país. Abrange os municípios de Itatiaia e Resende no Estado do Rio de Janeiro e Bocaina de Minas e Itamonte no Estado de Minas Gerais, onde ficam aproximadamente 60% de seu território. A Unidade está localizada entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, próximo à Rodovia Presidente Dutra, tendo como pólo econômico mais próximo a cidade de Resende. Apresenta um relevo caracterizado por montanhas e elevações rochosas, com altitude variando de 600 a 2.791 m, no seu ponto culminante, o Pico das Agulhas Negras.
No dia 25/JUN saímos cedo da RPPN Alto Montana (nosso alojamento) e seguimos para a parte baixa do Itatiaia, que caracteriza-se principalmente por sua vegetação exuberante e generosos cursos d’água, com diversas áreas apropriadas para banho. Tem fácil acesso a partir da Via Dutra e recebe o maior fluxo de turistas do Parque, concentrando a maior parte da estrutura de visitação, com destaque para o Centro de Visitantes, revitalizado para os 70 anos do parque.
Chegamos às 06h e fui muito bem recebido na portaria. Nos identificamos como observadores de aves e ele foi prontamente liberando nossa entrada, mesmo antes do parque abrir. Palmas para a gerência da UC!!! Muito bom quando somos bem recebidos e incentivados. A densa neblina que cobria a região nos impediu de iniciar os trabalhos. Seguimos de carro até um ponto mais alto onde começamos, ai sim, a tentar registrar algumas das aves. Na primeira tentativa um show da choquinha-de-garganta-pintada (Rhopias gularis), rapidamente atraída pelo Kassius em um poleirinho excelente. Algo que me surpreendeu foi a quantidade de pixoxós (Sporophila frontalis) vocalizando ao longo de toda a estrada de mais de 10km. Um absurdo!!! Tentamos várias vezes mas elas sempre lá no alto das copas, sem chance para fotos. Até que uma delas vocalizou baixo. Sai do carro bem devagar e fui entrando na vegetação. Quando sai demos de cara com uma árvore relativamente baixa. Quando atraímos, ai sim, um lindo macho resolveu se exibir e cantar muito alto bem na nossa frente. Um sonho realizado, ver um bicho livre na natureza, mesmo sendo tão desejado por gaioleiros. Continuamos até o Hotel do Ypê, famosa localidade que possui um super bem visitado comedouro para aves. Lugar lindo que certamente irei me hospedar com a família. Chegando lá tivemos o enorme prazer de encontrar com o guia Guilherme Battituzzo em trabalho e com as observadoras Adriana e Juliana Casali e Kacau Oliveira. Ficamos horas por ali nos divertindo com as dezenas de aves e tentando espantar os macacos-prego que queriam assaltar os comedouros rs. Naquele ponto consegui excelentes registros da saíra-sete-cores (Tangara seledon), ferro-velho (Euphonia pectoralis), catirumbava (Orthogonys chloricterus) e o maravilhoso araçari-banana (Pteroglossus bailloni), espécie que eu tinha muita vontade de encontrar e fotografar. Pouco depois outras foram aparecendo, como a belíssima tietinga (Cissopis leverianus), o barulhento guaxe (Cacicus haemorrhous) e o tecelão (Cacicus chrysopterus). Enquanto aguardávamos o almoço do Hotel, descemos e fizemos mais uma trilha nas proximidades. Valeu a pena, nesse meio tempo consegui registrar o trepador-coleira (Anabazenops fuscus), a choquinha-de-peito-pintado (Dysithamnus stictothorax), o papa-moscas-estrela (Hemitriccus furcatus) e o rabo-branco-de-garganta-rajada (Phaethornis eurynome). Após o almoço seguimos para mais uma trilha rápida antes que rendeu um sabiá-una (Turdus flavipes) e uma pomba-amargosa (Patagioenas plumbea).
No dia seguinte visitamos a parte alta, conhecida também como Planalto do Itatiaia, onde encontram-se os campos de altitude e os vales suspensos onde nascem vários rios. A área do Parque abrange nascentes de 12 importantes bacias hidrográficas regionais, que drenam para duas bacias principais: a do rio Grande, afluente do rio Paraná, e a do rio Paraíba do Sul, o mais importante do Rio de Janeiro. Além de curtir a paisagem e conhecer as Agulhas Negras, a visita ali tinha nome certo: garrincha-chorona (Asthenes moreirae). Quem acompanha meu trabalho sabe que eu atuo no Cerrado e que uma das espécies mais procuradas pelos meus clientes é o lenheiro-da-serra-do-cipó (Asthenes luizae). Conhecer outro Asthenes sp., também endêmico, era uma grande vontade. O bicho vive lá pro alto, acima de 2000m de altitude. No meio do caminho conseguimos mais algumas espécies importantes como a saudade (Lipaugus ater), a choquinha-de-serra (Drymophila genei), o bico-grosso (Saltator maxillosus) e o peito-pinhão (Poospiza thoracica). Quem leu o texto anterior (Confira a PARTE 01) lembra-se que eu havia perdido uma foto do beija-flor-de-topete (Stephanoxis lalandi) pois fiquei maravilhado olhando ele apenas pelo binóculos. Bem, uma a sorte sorriu para mim e tive uma segunda chance, dessa vez bem aproveitada. Ôh coisinha mais linda essa espécie. Ainda faltava ela, a garrincha… Chegamos no planalto, entramos na trilha principal e lá estava ela, aquela que seria minha 500ª espécie de ave brasileira que eu fotografaria… Um dia especial… Momento singular. Local, espécie e marca tão especiais que certamente ficarão marcadas para sempre na minha vida. So quem pensa 24h por dia nesses pequenos emplumados entende como essas metas são tão relevantes para nós observadores de aves. Obrigado, passarinhos, por me proporcionarem tantas alegrias! Não poderia terminar esse roteiro de melhor maneira. Muito obrigado Kassius pela força!
Encerramos essa maravilhosa viagem com muita vontade de voltar. Antes de se despedir, vale uma parada na Garganta do Registro para comprar uma série de produtos típicos produzidos na região da Mantiqueira. Muita opção de queijos, doces, pimenta (dizem que é a mais ardida do mundo), cogumelos entre outros. Leve dinheiro pois lá não aceita cartão de crédito. Agradeço a todas as pessoas que ajudaram nessa viagem e me receberam de forma tão cordial e ao Kassius pela primorosa condução, atraindo as principais espécies da região. Quer conhecer esse roteiro? Clique aqui para mais informações.
Um abraço,
EDUARDO FRANCO
- Posted by Eduardo Franco
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