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TRIP | Natureza na RPPN Santuário do Caraça
A Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça é uma Unidade de Conservação de âmbito federal e tal título se deve a Província Brasileira da Congregação da Missão que, por iniciativa própria e pelo seu compromisso socioambiental, reservou pouco mais de 10.000 hectares como área de conservação, com o intuito de garantir contra possíveis interesses danosos ao seu patrimônio natural. A reserva integra área destinada às Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço e da Mata Atlântica, reconhecidas pela UNESCO em 2005. O nome se deve a silhueta de uma grande face, que pode ser observada em uma das faces da Serra que emoldura o Santuário.
A Serra do Caraça situa-se em uma região de transição entre os domínios do Cerrado e da Mata Atlântica. Na RPPN Santuário do Caraça existem duas formações vegetais básicas, que são as campestres e as florestais. As campestres, dentro do domínio do Cerrado, e as florestais, dentro do domínio da Mata Atlântica. Destaca-se o campo rupestre, fitofisionomia dominante na Serra do Caraça, sendo predominantemente herbáceo-arbustivo, mas com a presença eventual de árvores pouco desenvolvidas. A vegetação dos campos rupestres da Serra do Caraça é pouca homogênea. Observamos que sua estrutura e composição modificam-se gradativamente à medida que aumentam a altitude, o teor de matéria orgânica e/ou a umidade. Neste ambiente, a maioria das plantas cresce nas frestas de rochas, onde a matéria orgânica e a umidade podem acumular-se mais facilmente, e poucas crescem diretamente nas rochas nuas.
Nos dias 19, 20 e 21 de setembro de 2017 recebemos a observadora de natureza, Miss Sheelagh Barnard, da Inglaterra, para uma rápida passagem em Minas Gerais durante sua trip pelo pelo Brasil.
Chegamos no Santuário do Caraça já na hora do jantar (18h30), o que fizemos logo após darmos entrada na pousada. Comemos bem rápido, compramos uma garrafa de vinho e descemos para frente da Igreja, na expectativa de conseguir ver o lobo-guará (Chrysocyron brachyurus) já na primeira noite. Se você não está entendendo muito bem a relação entre igreja, vinho e lobo, clique aqui. Poucos minutos após chegarmos, um grupo de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) se aproximou, no estacionamento do Caraça. Foi possível fazer alguns cliques. Bem, a garrafa de vinho acabou e nada do lobo aparecer. Um forte vento trouxe frio, o que dificultou bastante a espera. Acabamos abortando, pois era preciso descansar após uma longa viagem e um longo dia que estaria por vir.
No dia seguinte acordei bem cedo, às 05h00 da manhã, para conferir se o lobo havia aparecido e, logo quando abro a porta, dou de cara com o bicho comendo na bandeja aparentemente intacta, o que significa que ele realmente não apareceu durante a noite. Por alguns minutos era o frio, eu e o lobo. Já presenciei essa cena centenas de vezes, mas sempre parece a 1a. Um dos animais mais espetaculares que já vi. Após comer um pouco o bicho passeou um tempo pelo santuário até desaparecer em um das trilhas.
O Sol apareceu e seguimos então para uma das trilhas em busca dos macacos-guigós (Callicebus nigrifrons), um dos principais objetivos da Sheellagh. Pouco tempo após iniciarmos nossa caminhada, o tempo mudou completamente e chegou a garoar um pouco, o que nos forçou a abortar. Retornamos para o santuário para o café-da-manhã, que se inicia às 07h30. Enquanto tomávamos nosso café o tempo melhorou e então partimos novamente em busca dos macacos. Porém, antes de iniciarmos nossa busca, um casal de caburés (Glaucidium brasilianum) estava em um poleiro a altura do olho e não deu para resistir, passamos quase 01h na frente dos bichinho, observando, fotografado e filmando. Ainda ali por perto, vários mansos jacuaçus (Penelope obscura) também renderam ótimos retratos. Quando retomamos a trilha, não demorou muito e encontramos o nosso primeiro grupo de guigós, que deram ótimas chances de observação e fotografia.
Não bastasse os bichos serem super bonitos, tivemos a sorte de observarmos um macho carregando um filhote bem novo, provavelmente com poucos meses de vida. Sim, nessa espécie os machos que carregam os infantes por todo o tempo, entregando para as fêmeas apenas na hora de amamentar. As famílias desses macacos se organizam a partir de um casal monogâmico e seus filhotes, que após 3 anos de idade precisam sair do grupo e procurar outro parceiro, iniciando assim outra família. Os grupos variam entre 3 a 5 indivíduos, sendo raro observar 6 em uma mesma família.
Após um intervalo para o almoço e um rápido descanso, ficamos no entorno do Santuário observando alguns passarinhos, principalmente saíras. Uma das grandes vantagens de receber estrangeiros é que praticamente todas as espécies de aves são novidades para eles. Então, até mesmo aves comuns como um tico-tico e um canário-chapinha, merecem seus minutos de atenção.
Antes de irmos para o jantar, uma surpresa, o lobo já estava na frente da igreja. Dei uma corrida até o quarto da Sheelagh, que por sorte era bem perto, e a chamei para ver o bicho. Rapidamente ela chegou e ai foi só curtir o espetáculo. O bicho subiu várias vezes, dando todas as oportunidades possíveis para curtir a beleza daquela animal. Após o jantar, ele ainda retorno algumas vezes, dessa vez antes mesmo do nosso vinho acabar. Dessa vez foi possível voltar mais cedo para o quarto e descansar para o próximo dia.
Acordamos novamente às 05h, mas dessa vez pouca comida restava por lá e nada do lobo. Aproveitamos as horas antes do almoço e ficamos atrás de mais aves. Encontramos várias muito interessantes e que renderam belas fotografias.
Após o café seguimos para uma trilha de campo-rupestre, onde esperávamos encontrar algumas espécies diferentes dos de mata. Não deu outra, o dia estava lindo e conseguimos registrar muita coisa legal, com destaque para o rabo-mole-da-serra (Embernagra longicauda), o pequenino papa-moscas-de-costas-cinzentas (Polystictus superciliaris) e o endêmico beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus).
Dias fantásticos onde conseguimos atingir todos os principais objetivos. Registramos, além dos mamíferos, mais de 80 espécies de aves (confira a lista completa). Agradecemos à sempre carinhosa atenção dos funcionários do Caraça. Agradecemos ao Fred Tavares, da Brasil Aventuras, pela parceria e confiança em nosso trabalho.
Um grande abraço,
EDUARDO FRANCO
- Posted by Eduardo Franco
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